Esta exposição reúne um conjunto de 21 obras que resultaram de um processo conjunto de dois
criadores excecionais capazes de dialogar e de se fundirem num interesse partilhado pela criação
de novas obras. Duas pessoas absolutamente radicais no seu trabalho de fazedor de imagens, em
movimento num, fixas no outro, que se fundem num exercício inédito com um resultado magnífico,
puro, livre.
Foi Voltaire, o pensador radical do século XVIII, cuja obra tanto haveria de contribuir para a
modernidade europeia, quem escreveu algures que os bons espíritos se encontram. Esse belo
axioma, tão cheio de verdade exemplar, tornou-se, com o tempo, num dito popular. Não
surpreende, pois, à luz deste princípio elementar, que inevitavelmente Almodóvar e Galindo se
encontrassem.
O primeiro, antes de tudo, como seu colecionador, depois procurando imagens para figurar num
dos filmes. O segundo, de uma geração abaixo, admirador do outro, e vendo nessa possibilidade a
oportunidade de manifestar a sua admiração genuína, já que a sua geração nasceu culturalmente
da nova sociedade mostrada primeiramente por Almodóvar.
A história que se seguiu é conhecida. O encontro dar-se-ia com facilidade e rapidamente um
projeto comum nasceria desse mesmo encontro. Porque não ampliar, a uma escala monumental,
quase de ecrã de pequena sala de cinema de bairro, as fotografias de Pedro Almodóvar para,
partindo desse suporte novo, as intervencionar de pintura?
E o resultado é, a vários títulos notável, tanto para um, como para o outro, porque se Galindo
experimenta aqui medir-se com uma imagem anterior – o que já havia feito nos seus inícios, ao
pintar sobre cartazes arrancados da rua, desejando picabianamente integrar essas imagens nas
suas, como numa arena – neste caso tudo opera como se sobre um ecrã, mesmo se fotográfico,
vindo dos enquadramentos do cineasta/fotógrafo.
E, no caso de Pedro Almodóvar aquilo de que se trata é afinal de reencontrar a possibilidade de
ver de repente os seus ecrãs saturados pela invasão violenta, a seu modo soberana, invasora,
dessa violência da pintura com a qual ele mesmo sonhou, ao ter feito um cinema todo ele
povoado de e construído sobre um desejo de pintura.
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