NATURALIA II

Uma essencialidade sensorial e telúrica, aliada a uma dimensão temporal de memória, caracteriza a pintura de Clotilde Fava. 

A presente série pictórica das Flores da artista constitui uma apologia metafórica do corpo e da sexualidade.  

Lembradas da pintura de Georgia O’Keefe e da fotografia de Robert Mapplethorpe, inflamadas de cor, sujeitas a efeitos tonais, estas flores assumem-se como metáfora da sexualidade, predominantemente feminina.  

Em exercícios de recorte, aproximação e ampliação de índole neo-Pop, e em reestruturação da própria composição, como se vista através de uma câmara, estas formas pictóricas l metamorfoseiam-se livremente noutras de crescente cariz biomórfico – sugerindo estames, caules, folhas, frutos ou insetos – numa depuração progressiva e na busca de uma essencialidade que atinge o paroxismo da não figuração, conceptualmente distinta, e que desagua nos Estudos de Formas Tridimensionais: passíveis de serem realizadas noutros materiais, estas composições geométricas lineares, policromas e despojadas, trazem consigo a memória da anterior prática da cerâmica mural, realizada pela artista em Angola. 

Rui Afonso Santos