A exposição “Ultimate Tim: 14-24“ convida o espectador a mergulhar num universo pictórico essencialmente abstrato que confere aos materiais usados nas pinturas e esculturas uma personalidade e um caráter emocional muito dominante.
Esta seleção cuidada de trabalhos artísticos teve como fundamento curatorial identificar as pinturas que congregassem em si a noção de tempo subjetivo e memória dos objetos e materiais utilizados, sabendo que a mesma escolha é difícil, pelas complexas técnicas e práticas intensivas e “desejantes” de criar, recriar, nomear e restituir identidade ao objeto. Julgo, ser um reflexo da sua constante busca interior, através da matéria artística.
As obras aqui apresentadas são criadas a partir de materiais reciclados, suportes e diferentes mediums, que se tornam os portadores das memórias e das histórias familiares do artista, já que o terreno abstracionista em que “navega” é quase sempre ambíguo, prolífero e inquietante. Os elementos plásticos, que evocam as texturas e formas do passado, são manipulados para criar uma harmonia de caos e ordem, de perda e reencontro, gerando uma poética visual que tanto desestabiliza como acolhe.
Acredito que os desenhos, as pinturas e a segunda vida dos objetos de Tim se fundem entre si, traduzindo visualmente despojos esquecidos, impregnados de outros significados históricos e familiares, que, quando reutilizados passam a ter uma carga simbólica muito pessoal e atual.
A obra está aberta neste sentido mais puro do conceito, o artista dá-lhe forma numa perspetiva completamente livre, despida de qualquer significado contextual. A história escreve-se a si mesma a partir do traço compulsivo, das várias combinatórias matéricas, e camadas de energia que Tim imprime de forma tão eletrizante.
O tempo não é linear; a arte trata de reencontrar as raízes da sua expressão e o destino dos materiais — pedaços de madeira, retalhos de tecido, papel rasgado, metais desgastados — são elementos comuns, porém, transformados pela força criadora. Esses fragmentos de objetos quotidianos, que antes pertenciam ao círculo íntimo e afetivo da família do artista, ganham uma nova vida, transcendendo a sua origem utilitária para se tornarem símbolos de experiências vividas e de emoções transitórias; tal como os objetos que perderam a sua função original (lençóis, fronhas, caixas de papel, pedaços de fotografias, jornais, cartazes, páginas de livros, recortes, rostos conhecidos e desconhecidos, etc.) para passarem a ter a possibilidade de ressignificação, de se tornarem algo novo, transfigurado.
“Ultimate Tim” é, portanto, uma celebração daquilo que é intangível e do poder da transformação interior. Os “restos” da vida material deixados, entram num processo informal e criador de superação física, a que o artista dá corpo, abrindo o campo das possíveis leituras da obra pictórica. m movimento, muitas vezes repetido, surge do interior da pintura como tentativa de superar a sua formalidade, a sua representação.
Muitas das obras aqui expostas são dípticos ou trípticos; outras são séries de número variado, em que o artista desenvolve possíveis combinações de formas, cores, manchas palavras; recortes. Muitas delas funcionam com duplos ou espelhos fraturantes, mas que se compõem pelo espectador de forma a criarem uma unidade. Os trabalho artísticos de Tim também são versatilmente lúdicos, porque desafiam o espaço e o tempo linear, constantemente. Por vezes, o seu valor não está na forma original, mas na nova configuração que estes adquirem quando se juntam ou se recombinam.
A técnica da colagem e da sobreposição de materiais aqui tão presente, remete justamente para essa ideia de multiplicidade e permutação das partes como um infinito finito.
Elisa Ochoa
Com a curadora Elisa Ochoa
Sábado, 25 janeiro, 16h00
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